Você já parou para pensar se o nosso Universo teve um início? Se ele terá um fim? Ou se existia tempo antes do início do nosso Universo? Essas questões não são nada simples, elas intrigaram e ainda intrigam a mente de diversos pensadores, filósofos, físicos, estudantes, curiosos, enfim, todos.
Um dos primeiros questionamentos de que temos informação acerca do tempo de que é encontrado na Grécia antiga, no pensamento de Heráclito (540 – 470 a.C.) “não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio”. Pitágoras (580 – 500 a.C.) interpretava o tempo como a “alma do Universo”. Platão (427 – 327 a.C.), de certa forma, aprofunda essa concepção, concebendo um universo que tem o tempo como uma característica, “produzido” pelas revoluções dos planetas.
Aristóteles (384 – 322 a.C.), seguidor de Platão, afirmava que os movimentos eram definidos pelo tempo, porém o tempo não poderia ser definido por si mesmo. Para esse pensador, o tempo é a medida do movimento, um número, necessitando que alguém o numere. É pela consciência do “antes” e do “depois” que temos ciência do tempo.
As concepções aristotélicas e platônicas, apesar de distintas e criticadas em alguns pontos, foram extremamente influentes até o século XIV. Uma das críticas mais relevantes, feitas desde o período da Grécia antiga por Plotino (270 – 205 a.C.) e posteriormente reforçadas por Santo Agostinho (354 – 430), vai na direção de considerar o tempo como uma duração, em oposição à concepção do tempo como número de Aristóteles.
Digno de nota é a concepção árabe do tempo, com bastante influência na Europa medieval: bem diferente do tempo contínuo de Platão e Aristóteles, os árabes tinham uma concepção atomística do tempo.
Após o Renascimento vemos um início de afastamento da visão “aristotélica”: Giordano Bruno (1548 – 1600) afirmava que o espaço era infinito e era eterno no tempo. René Descartes (1596 – 1650) por outro lado, considera a “duração” como uma característica dos corpos. Para ele, o tempo é um modo de pensar, a dimensão que usamos para conhecer as durações das coisas.
Galileu Galilei (1564-1642) expressa a ideia de um tempo contínuo, com infinitos instantes, e é notável o fato de ele dar um sentido físico ao tempo, relacionando-o com o mecanismo com que seu relógio funcionava. Com isso, o relógio deixa de ser apenas um padrão de medida para “eventos sociais”, mas inaugura e mede um novo tempo, o “tempo físico”. Essa preocupação com o tempo físico é presente no pensamento de Isaac Newton (1642-1727) desde seu livro Principia.
Ou seja, para Newton, existe o tempo verdadeiro, matemático, que “flui” uniformemente e não sofre nenhuma interferência. As medições de tempo, obtidas através do movimento dos corpos, são usadas no lugar do tempo verdadeiro, e formam o que ele chamava de tempo comum. Para Newton, “todos os movimentos podem ser acelerados ou retardados, mas o fluxo de tempo absoluto não é passível de mudanças“.
A concepção de Newton de tempo não foi isenta de críticas. Em particular, Ernst Mach (1838 – 1916) defende que a própria ideia de tempo é uma abstração, a qual chegamos por percebermos a variação das coisas. Para Mach, o movimento não ocorre no tempo: o que fazemos é comparar diferentes etapas do movimento entre si (ou entre o que pensamos e sentimos) percebendo a evolução, a mudança, atribuindo a essa mudança à noção de tempo.
Como se já não bastasse tamanha interpretação do tempo ao longo da história, ainda adiciono a concepção do filósofo da ciência Gaston Bachelard (1884 – 1962): o que há sentido é o tempo como instante. Para ele, o instante é uma realidade entre dois vazios, “o instante é a única realidade do tempo”.1
Ao final desse texto, passado certo tempo, você ainda se pergunta: o que é o tempo? E, em tempo, comento: há certas coisas que só o tempo irá dizer. Essa, talvez, seja uma delas.
Referências:
- MARTINS, A. F. P. Concepções de estudantes acerca do conceito de tempo: uma análise à luz da epistemologia de Gaston Bachelard. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências). Instituto de Física, Instituto de Química, Faculdade de Educação, Instituto de Biociências. Universidade de São Paulo, 2004.
- MARTINS, A. F. P. Tempo Físico: a construção de um conceito. 1. ed. Natal – RN: Editora da UFRN, 2007.
- MARTINS, A. F. P.; ZANETIC, J. Tempo: esse velho estranho conhecido. Ciência e Cultura, v. 54, n. 2, p. 41-44, 2002.