
Você deve se lembrar do incêndio do Museu Nacional, em 2018, causado por negligências de alguns aspectos técnicos defeituosos. O museu era sediado em um prédio histórico, em pé desde a época do Brasil Imperial, e além da grande importância histórica e simbólica, possuía um imenso valor científico, pois como já dissemos neste artigo, museus possuem um importante papel na pesquisa científica, assim como universidades, e não só na exposição de “coisas velhas”, como muitas pessoas pensam.
Pois bem, em homenagem ao Museu Nacional, cientistas deram a uma espécie de dinossauro descoberta na bacia do Araripe, no estado do Ceará em 2008 um nome um tanto peculiar: Aratasaurus museunacionali. Aratasaurus é o nome do gênero da espécie – ou seja, o grupo que prece a espécie, assim como nós sapiens somos homo, e pertencemos ao mesmo gênero do homo neanderthalis, por exemplo.
O termo museunacionali, como o nome indica, faz referência ao museu incendiado. O nome da espécie do animal tradicionalmente faz alguma referência ao descobridor ou ao local de descoberta, mas os cientistas optaram por realizar uma homenagear so museu, já que o espécime do dinossauro descoberto estava lá quando houve o incidente.
O dinossauro foi descrito em um artigo publicado recentemente no periódico Scientific Reports, editado pela Nature. A apresentação científica da nova espécie foi feita por um grupo formado principalmente por pesquisadores do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Regional do Cariri (Urca), uma universidade do Ceará.
O dinossauro
O Aratasaurus museunacionali foi encontrado em 2008 na Bacia do Araripe, no Ceará. Essa é uma região bastante propícia para a paleontologia, pois, conforme escrevem os pesquisadores no artigo: “A Formação Romualdo (Bacia do Araripe) é conhecida mundialmente pelo grande número de fósseis bem preservados, mas o registro de dinossauros é bastante escasso”.

A especiação dele é uma questão bastante técnica, feita por pequenas características que diferem em determinados ossos, em comparação com outras espécies de dinossauros do mesmo gênero ou do mesmo grupo ao qual o Aratasaurus museunacionali pertence. Ao National Geographic, o paleontólogo Alexander Kellner, autor sênior do estudo, explica essas características:
“Ele apresenta feições muito interessantes no formato da tíbia e das falanges do pé, que não apenas indicam se tratar de uma nova espécie, mas que o dinossauro mais proximamente relacionado está do outro lado do mundo”, diz.
Ele é um dinossauro médio, com cerca de 3,12 metros de comprimento, mas poderia ser maior, já que trate-se de um fóssil de uma animal jovem. Entretanto, não muito grande, pois os dinossauros carnívoros geralmente não eram muito grandes, como tendemos a pensar. Os gigantes, como o Tiranossauro, eram geralmente herbívoros. Como um carnívoro precisa de maior mobilidade para poder caçar, um tamanho grande em demasia poderia atrapalhar.
O Aratasaurus museunacionali viveu durante o período Cretáceo, período que remete a aproximadamente entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, e possui parentesco com dinossauros hoje encontrado em fósseis na América do Norte e na Ásia.
Referências:
- KELLNER, Alexander W. A. et al. “The first theropod dinosaur (Coelurosauria, Theropoda) from the base of the Romualdo Formation (Albian), Araripe Basin, Northeast Brazil”; Scientific Reports/Nature. Acesso em: 15 jul. 2020.
- National Geographic. “Dinossauro ‘cearense’ batizado em homenagem ao Museu Nacional tem um parente na China”. Acesso em: 15 jul. 2020.