Como muitas construções, começou pequeno. Mas agora milhares de crianças com autismo estão fazendo amigos e aprendendo habilidades sociais ao jogar Minecraft on-line.

Stuart Duncan teve a ideia através de um blog no qual ele publicava sobre suas próprias experiências com autismo, bem como criar um filho com autismo. Outros pais com filhos autistas falaram que seus filhos eram loucos por um jogo que os permitia explorar um mundo gerado aleatoriamente. No entanto, apesar de amar o jogo, muitas das crianças estavam sendo intimidadas por outros jogadores.

Então, em 2013, Duncan, um desenvolvedor web em Timmins, no Canadá, criou um servidor para executar uma versão do Minecraft exclusiva para crianças com autismo e suas famílias. Ele projetou o servidor para suportar somente 20 pessoas, mas, para sua surpresa, centenas pediram para participar nos primeiros dias.

Agora, anos depois, coordenar “Autcraft” é seu trabalho em tempo integral. A comunidade possui cerca de sete mil membros, juntamente com uma equipe de administradores para ajudar a gerenciar suas muitas atividades. “Os pais veem esse benefício para si e seus filhos”, diz Duncan. “O Minecraft tira as pressões e distrações do mundo real. Você pode realmente ser você mesmo”, acrescenta.

O servidor chamou a atenção de Kate Ringland, da Universidade da Califórnia. Ela passou 60 horas dentro desse mundo virtual, vendo como as crianças brincam e conversam entre si. Ringland vê o Autcraft não apenas como uma comunidade on-line, mas como uma ferramenta que ajuda crianças autistas a praticar habilidades sociais.

Em Minecraft, você manipula blocos de materiais como madeira e pedra para construir o que quiser — desde recriações meticulosas de cidades até computadores simples. “Esta é uma ótima maneira de eles jogarem um jogo que amam, mas também têm uma experiência social”, diz Ringland. “É dar uma maneira alternativa para essas crianças se expressarem e se comunicarem sem o estresse das coisas da vida física”, explica.

Situações sociais cotidianas podem ser desafiadoras para crianças autistas, que podem ter dificuldade em pegar pistas sociais ou entender a perspectiva de outra pessoa. Duncan acredita que o Minecraft tira as pressões típicas do mundo real. Não há ambiente barulhento ou desconhecido para distraí-lo, nenhuma pressão para rastrear as expressões faciais da outra pessoa ou se preocupar com o contato visual. “Com Minecraft, você pode realmente ser apenas você mesmo”, diz. “As interações sociais, as relações, a comunicação — tudo se resume a você e ao seu teclado.”

Para ingressar no Autcraft, você deve preencher um formulário. Uma vez aprovado, você está livre para vagar pela paisagem e construir suas próprias estruturas. Você também pode participar de jogos em grupo — como batalhas maciças contra “withers“, uma espécie de vilão fantasmagórico — ou construir coisas como uma equipe. Mas você tem que seguir algumas regras. Assediar outros jogadores ou destruir suas propriedades pode bani-lo. Um servidor spin-off para adolescentes é um pouco mais permissivo.

Ringland observou jogadores em Autcraft e vasculhou discussões em fóruns on-line relacionados. Ela viu as pessoas construírem amizades e se divertirem juntas. Ela também via crianças expressando seus sentimentos — alegria por um bom momento no jogo, e ansiedade ou tristeza sobre problemas no mundo real. “Há muita reflexão acontecendo”, diz ela. “Minecraft está apoiando muitos desses comportamentos sociais”, explica.

Juntar-se a uma comunidade como o Autcraft pode ser um bom primeiro passo para se sentir menos ansiosa socialmente e mais engajada, diz Elizabeth Laugeson, diretora da Clínica PEERS da Universidade da Califórnia, que ensina jovens adultos com autismo a construir relacionamentos. Mas não deve ser a única saída para aprender essas habilidades, diz ela. “Minecraft não está necessariamente ensinando as habilidades sociais que eles precisam para navegar no mundo real”, explica.

No entanto, onde funciona, o Autcraft mostra o quão poderoso pode ser criar ambientes sociais centrados em um interesse comum, diz Matthew Lerner, da Universidade Stony Brook, em Nova York. “Ele se constrói a partir dos interesses e paixões das pessoas com autismo em vez de tentar redirecioná-las ou surpreendê-las.”